sábado, 14 de março de 2015

Agricultura otimizada I





Agricultura otimizada I





Enquanto índios, os habitantes da Terra Brasilis, dançavam e cantavam. Catavam, pescavam e colhiam somente o que precisavam. Tudo era farto para o número de habitantes. Viviam e interagiam com a natureza, como seres pertencentes à natureza. Não havia necessidade de provisões para uma caminhada ou uma incursão maior, mais longa e mais demorada. Todo tipo de alimento podia ser encontrado pelo caminho. Não havia necessidade de estocar. Adaptavam-se as safras e as ofertas das matas. 

Com aprendizado e observação aprenderam a plantar. E plantavam pequenas roças de subsistência. Até que chegaram os europeus para transformar produtos vegetais e minerais em mercadorias, que poderiam ser comercializadas, onde havia moeda disponível e sistema monetário implantado. Começa a necessidade de uma produção de excedentes. A produção para um mercado externo, atendendo as necessidades externas.

Durante muito tempo foi assim, e tentamos ser assim. Sempre plantamos e criamos variedades, qualidades e quantidades, para uma sobrevivência: simples, regrada e controlada. Uma produção de acordo com a demanda. A regra era: plantamos o que comemos e comemos o que plantamos. Aprendemos a respeitar e reconhecer o clima e os ambientes, de acordo com a seca e o inverno, o verão e as cheias.  Os hábitos dos indígenas passaram para o sertanejo, por cultura, comportamento e história. Viver fora das matas, para viver nas caatingas e nos sertões distantes, serrados e lugares mais distanciados, outro comportamento foi necessário. Criando uma nova cultura, miscigenada com a cultura europeia. A cultura de explorador que vai a locais distantes sem saber o que procurar e o que encontrar. Desejando encontrar coisas preciosas e valiosas. Com a necessidade de provisões e mantimentos carregar. A influência da inclusão da moeda e do sal. 

Aprendemos a olhar para o céu e descobrir os sinais para preparar e usar a terra: arar e semear, plantar e colher. Por muitas das vezes observamos os animais, seus comportamentos e suas necessidades, suas frutas e seus frutos escolhidos e preferidos. E depois da colheita, se sobrar algo talvez armazenar. Uma sobra para o período da entressafra. Convivemos e aprendemos a viver durante anos e anos, com a inundação e a falta d’água. E vieram para nos dizer que não sabíamos arar, plantar ou semear; ou que não sabíamos comer por não saber escolher e preparar; e até que dizer que não sabíamos guardar ou armazenar. Necessidades típicas e criadas de invernos rigorosos, com nevascas, congelamentos de lagos e de rios por baixas temperaturas.

Chegaram com um conhecimento respaldado por uma ciência. Uma ciência produzida por simples e pura observação. Observaram nossos comportamentos para afirmar que estávamos errados. Para dizer que não estava bem feito, e devia ser feito assim ou assado. O importante era produzir para sobrar e exportar.

E veio a ciência como uma religião. Fez da cruz suas réguas, seus esquadros e seus compassos. Com a cruz fizeram gráficos para analisar o tempo e o espaço. Com a cruz fizeram estacas e apoios para alguns tipos de cultivo. Fizeram espaçamentos para os plantios: definindo profundidades das covas, semeadura e replantio. Da cruz fizeram suas armas, apoios e ferramentas.

Colheram e plantaram informações em seus gráficos. Observaram os períodos de secas e as plantações, as safras e as inundações. Analisaram tudo em laboratórios e escritórios. Fizeram cálculos e anotações. Criaram tabelas e formulas com conceitos matemáticos, baseados em um histórico de observações e anotações. Tabularam e analisaram o passado admitindo prever um resultado no futuro. Não simularam e não incluíram em seus cálculos, que o mundo, com suas cidades e no campo, seus climas haviam mudado. Estão sempre mudando, inclusive pela permanência e influencia do homem. O homem constrói, mas também destrói. Não souberam dimensionar e calcular a destruição causada pelo homem, para incluir em seus cálculos e seus gráficos. 

Estabeleceram conceitos de um mundo encapsulado e hermeticamente fechado. Tudo é analisado dentro de um laboratório ou escritório, produzindo ideias contraditórias. Ideias que funcionam como propaganda de sabão em pó, fazendo mais espuma e cada vez lavando mais branco.

Ao longo de anos o homem lançou foguetes para o espaço e deixou lixo espacial pelo caminho. O planeta recebeu visitas de cometas e quedas de asteroides. Sofre mudanças climáticas por explosões e radiações acontecidas e provindas do Sol. Fica claro que há uma interação com o universo. A terra solta no espaço vai mudando seu giro. Tal como a bola de futebol muda sua trajetória a caminho do gol.

Saímos de um fogão à lenha para um forno de micro-ondas, saímos de um pensamento rural observador para um pensamento urbano, critico e pragmático. Saímos da zona rural para a zona urbana. Entramos em uma zona de conforto. E analisamos o mundo como uma panela de pressão, sem observar a ebulição e a modificação, que acontece lá dentro. Só avaliamos o que acontece por fora. Na hora estipulada e determinada, o que esta na panela fica pronto. E apenas observamos pelo lado de fora. Enquanto uns participam de uma ebulição e transformação, outros controlam o tempo pelo lado de fora.

Enquanto cozinhávamos em panelas de barro sobre um fogo de lenha, íamos acompanhado o preparo. Adicionando lenha ou reduzindo o fogo, aumentando ou diminuindo a água, acrescentando os ingredientes, em um passo a passo. Mexendo e remexendo a cada etapa. Incorporando ideias e ingredientes, da mistura heterogênea a mistura homogênea. 

E agora com as ultimas inovações tecnológicas das cozinhas, só controlamos o tempo e não observamos o preparo e os pontos de cozimento, durante a mistura dos ingredientes, a confecção e o processo de aquecimento. Não avaliamos e não observamos o passo a passo. Cada ponto de um processo antes de uma nova etapa. Não acompanhamos as transformações. Comemos quando um apito diz que o alimento está pronto, bastando apenas degustar, independente da cultura e do clima. Aceitamos e acatamos ideias e inovações que já chegam prontas, bastando apenas aplicar, independente da cultura e do clima. Atribuem seus comportamentos como gerenciamento e gestão, o pensamento top da ciência e do conhecimento.

RN. 14/03/15

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