Agricultura
otimizada I
Enquanto índios, os
habitantes da Terra Brasilis, dançavam
e cantavam. Catavam, pescavam e colhiam somente o que precisavam. Tudo era
farto para o número de habitantes. Viviam e interagiam com a natureza, como
seres pertencentes à natureza. Não havia necessidade de provisões para uma
caminhada ou uma incursão maior, mais longa e mais demorada. Todo tipo de
alimento podia ser encontrado pelo caminho. Não havia necessidade de estocar.
Adaptavam-se as safras e as ofertas das matas.
Com aprendizado e observação
aprenderam a plantar. E plantavam pequenas roças de subsistência. Até que
chegaram os europeus para transformar produtos vegetais e minerais em
mercadorias, que poderiam ser comercializadas, onde havia moeda disponível e
sistema monetário implantado. Começa a necessidade de uma produção de
excedentes. A produção para um mercado externo, atendendo as necessidades
externas.
Durante muito tempo foi
assim, e tentamos ser assim. Sempre plantamos e criamos variedades, qualidades
e quantidades, para uma sobrevivência: simples, regrada e controlada. Uma
produção de acordo com a demanda. A regra era: plantamos o que comemos e
comemos o que plantamos. Aprendemos a respeitar e reconhecer o clima e os
ambientes, de acordo com a seca e o inverno, o verão e as cheias. Os hábitos dos indígenas passaram para o
sertanejo, por cultura, comportamento e história. Viver fora das matas, para
viver nas caatingas e nos sertões distantes, serrados e lugares mais distanciados,
outro comportamento foi necessário. Criando uma nova cultura, miscigenada com a
cultura europeia. A cultura de explorador que vai a locais distantes sem saber
o que procurar e o que encontrar. Desejando encontrar coisas preciosas e
valiosas. Com a necessidade de provisões e mantimentos carregar. A influência
da inclusão da moeda e do sal.
Aprendemos a olhar para o
céu e descobrir os sinais para preparar e usar a terra: arar e semear, plantar
e colher. Por muitas das vezes observamos os animais, seus comportamentos e
suas necessidades, suas frutas e seus frutos escolhidos e preferidos. E depois
da colheita, se sobrar algo talvez armazenar. Uma sobra para o período da entressafra.
Convivemos e aprendemos a viver durante anos e anos, com a inundação e a falta
d’água. E vieram para nos dizer que não sabíamos arar, plantar ou semear; ou
que não sabíamos comer por não saber escolher e preparar; e até que dizer que
não sabíamos guardar ou armazenar. Necessidades típicas e criadas de invernos
rigorosos, com nevascas, congelamentos de lagos e de rios por baixas temperaturas.
Chegaram com um conhecimento
respaldado por uma ciência. Uma ciência produzida por simples e pura observação.
Observaram nossos comportamentos para afirmar que estávamos errados. Para dizer
que não estava bem feito, e devia ser feito assim ou assado. O importante era
produzir para sobrar e exportar.
E veio a ciência como uma
religião. Fez da cruz suas réguas, seus esquadros e seus compassos. Com a cruz
fizeram gráficos para analisar o tempo e o espaço. Com a cruz fizeram estacas e
apoios para alguns tipos de cultivo. Fizeram espaçamentos para os plantios:
definindo profundidades das covas, semeadura e replantio. Da cruz fizeram suas
armas, apoios e ferramentas.
Colheram e plantaram informações
em seus gráficos. Observaram os períodos de secas e as plantações, as safras e
as inundações. Analisaram tudo em laboratórios e escritórios. Fizeram cálculos
e anotações. Criaram tabelas e formulas com conceitos matemáticos, baseados em
um histórico de observações e anotações. Tabularam e analisaram o passado
admitindo prever um resultado no futuro. Não simularam e não incluíram em seus
cálculos, que o mundo, com suas cidades e no campo, seus climas haviam mudado. Estão
sempre mudando, inclusive pela permanência e influencia do homem. O homem
constrói, mas também destrói. Não souberam dimensionar e calcular a destruição
causada pelo homem, para incluir em seus cálculos e seus gráficos.
Estabeleceram conceitos de
um mundo encapsulado e hermeticamente fechado. Tudo é analisado dentro de um
laboratório ou escritório, produzindo ideias contraditórias. Ideias que
funcionam como propaganda de sabão em pó, fazendo mais espuma e cada vez
lavando mais branco.
Ao longo de anos o homem
lançou foguetes para o espaço e deixou lixo espacial pelo caminho. O planeta
recebeu visitas de cometas e quedas de asteroides. Sofre mudanças climáticas por
explosões e radiações acontecidas e provindas do Sol. Fica claro que há uma
interação com o universo. A terra solta no espaço vai mudando seu giro. Tal
como a bola de futebol muda sua trajetória a caminho do gol.
Saímos de um fogão à lenha para
um forno de micro-ondas, saímos de um pensamento rural observador para um
pensamento urbano, critico e pragmático. Saímos da zona rural para a zona
urbana. Entramos em uma zona de conforto. E analisamos o mundo como uma panela
de pressão, sem observar a ebulição e a modificação, que acontece lá dentro. Só
avaliamos o que acontece por fora. Na hora estipulada e determinada, o que esta
na panela fica pronto. E apenas observamos pelo lado de fora. Enquanto uns
participam de uma ebulição e transformação, outros controlam o tempo pelo lado
de fora.
Enquanto cozinhávamos em
panelas de barro sobre um fogo de lenha, íamos acompanhado o preparo. Adicionando
lenha ou reduzindo o fogo, aumentando ou diminuindo a água, acrescentando os ingredientes,
em um passo a passo. Mexendo e remexendo a cada etapa. Incorporando ideias e
ingredientes, da mistura heterogênea a mistura homogênea.
E agora com as ultimas
inovações tecnológicas das cozinhas, só controlamos o tempo e não observamos o
preparo e os pontos de cozimento, durante a mistura dos ingredientes, a confecção
e o processo de aquecimento. Não avaliamos e não observamos o passo a passo. Cada
ponto de um processo antes de uma nova etapa. Não acompanhamos as
transformações. Comemos quando um apito diz que o alimento está pronto,
bastando apenas degustar, independente da cultura e do clima. Aceitamos e
acatamos ideias e inovações que já chegam prontas, bastando apenas aplicar,
independente da cultura e do clima. Atribuem seus comportamentos como gerenciamento
e gestão, o pensamento top da ciência e do conhecimento.
RN.
14/03/15
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